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Sobre o momento após o parto


É muito comum ouvir que o puerpério (ou pós parto) pode durar de 4 a 6 semanas e após esse período, a mulher “volta ao normal”. Sabemos, na perspectiva da psicologia, que o período após o parto é de intensa transformação, física, psíquica (mental/emocional) e social, e que sua duração é mais longa do que 6 semanas, podendo levar 1 ano ou mais. Estudos atuais reafirmam essa visão[1].


Em casos não identificados de depressão pós parto, esse tempo pode se estender até que a mulher consiga, a partir de seus próprios recursos, se reorganizar com muita dificuldade ou ter acesso ao auxílio profissional. Inclusive, na clínica, vemos alguns diagnósticos se confundirem por não considerar o histórico da gestação, do parto e da relação com o bebê.


A gestação pode ser vivenciada como um mergulho em si mesma, um momento em que suas defesas psíquicas inconscientes se afrouxam e o conteúdo ali retido, na maior parte das vezes doloroso, pode ser reintegrado à personalidade e a mulher pode alcançar outro nível de autoconhecimento e amadurecimento.


Não tenha medo de mergulhar, se preciso, busque ajuda e poderá descobrir muito mais sobre você mesma do que imagina. Esse acompanhamento é feito através do pré natal psicológico, conduzido por psicólogas(os) que atuam na área Perinatal.


Quando a aceitação da transformação acontece em nível mais profundo, durante a gestação, o puerpério pode ser vivido com maior autoconfiança e resiliência. O grau de dificuldade sempre é variável, afinal cada mulher tem sua história e uma capacidade singular para vivenciar momentos de maior intensidade emocional. Em algumas situações, ainda que a mulher busque esse acompanhamento na gestação, ela pode precisar do suporte continuado no pós parto.


Numa sociedade em que tudo é plástico, asséptico e prático, muitas mulheres se encontram distantes desse conhecimento mais profundo. Esse é um dos motivos pelos quais existe uma descoberta, assustadora e repentina, da profundidade do puerpério. Ou ainda, o desespero para que passe logo!


Essa vivência transforma profundamente e permite que a mulher vá de encontro às necessidades do bebê, que demanda muita energia e depende dela para sobreviver, física e psiquicamente. Esse encontro traz conteúdos inconscientes à tona, como a sua própria vivência enquanto bebê e a relação com sua mãe, se suas necessidades primárias foram satisfeitas, refletindo suas dores e sua capacidade de acolher.


Todo esse conteúdo retorna e tem chance de ser atualizado e reintegrado, reconfigurando seu antigo papel de filha e iniciando o novo papel de mãe[2]. Essa é a grande travessia íntima do puerpério!


[1]Link: http://www.salford.ac.uk/news1/women-need-longer-than-six-weeks-to-recover-from-childbirth,-says-salford-expert

[2] Baseado na Teoria dos Papéis de J. L. Moreno. Quando um novo papel é adicionado à vida da pessoa, todos os outros são reconfigurados – filha, irmã, profissional, mulher, amiga, etc.

Bia Muniz

Formação como Psicóloga - Universidade Federal do Rio de Janeiro. Estudos em Orgonomia - CORE/Centre for Orgonomic Research and Education - UK. Coordenação de grupos de Gestantes (Vitória Pamplona e Aline Melo) - RJ. Ecologia do Parto e Nascimento (Michel Odent) - Primal Health Research Centre - RJ. Mestre em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social – Instituto de Psicologia/ Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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